Uma vez encontrei um jovem sozinho na
rua. Estava todo sujo. Estava tão sujo que eu jurava ver poeira saindo do seu
corpo quando caminhava em minha direção. O engraçado é que o tanto que estava
sujo era o tanto que estava feliz. Vinha sorrindo, esbanjando contentamento.
Carregava uma caixinha de fósforo e nela dedilhou um sambinha e, tão logo me
viu, começou a cantar:
Oh,
seu moço, por favor, dê um sorriso!
Porque hoje aprendi o que é o amor.
O que é o amor...
_ Por que está tão feliz menino? – Perguntei admirado.
_ Porque hoje conheci a melhor música do mundo e descobri que ela está dentro
desta caixinha. _ Me respondeu prontamente.
_ Música?! Mas isso não é música! É apenas um batuque!
Ele me olhou de uma maneira tenra e dócil...
_ Não, moço... É música! E é tão linda que só os puros podem ouvi-la e
reconhecê-la.
_ Não é engraçado um rapaz como você tão sujo falar de pureza?
Mais uma vez ele pousou em mim um olhar dócil, sorriu e disse:
_ Você acha mesmo que eu estou sujo? É, moço... Você não sabe mesmo o que são
as coisas do mundo... O que os seus ouvidos e olhos escutam e veem nem sempre
são o que realmente se diz ou mostra. Preste um pouco mais de atenção... Eu vou
ajudar você.
A partir daquele momento, não mais disse nada. Na verdade não fora preciso. Ele
tocou a caixinha de fósforo de uma forma tão maravilhosa, com uma alegria tão
especial, que aos poucos fui percebendo a grande música que dali saía e, nessa
hora, percebi que não era poeira suja que eu via sair de seu corpo, e sim
partículas minúsculas de luz que o envolvia completamente. Foi quando vi como
eu estava enganado pelo pessimismo que me afligia e pela arrogância dos mais
velhos que julgam ter o direito de achar ser isso natural. Quando o jovem me
viu diferente, deu um sorriso largo e escultural, sorriso que eu não me
lembrava de ter visto igual, e saiu tocando a sua caixinha de fósforo até sumir
de minha vista. Quanto a mim fiquei feliz. Ele está por aí, na sua missão de
caixinha. Por isso, repare em todas as pessoas “sujas” que encontrar pelas ruas
e, ao invés de se desviar delas, deem a elas um pouco de atenção e as toque
como a uma caixinha de fósforo. O que vier delas pode ser a melhor música do
mundo...