Depois daquele dia foi
a primeira vez que ela entrou no quarto do filho. Acariciou suas poucas roupas
que lhe sobraram da infância perdida no abandono e ficou nesta tarefa por
horas, até as lágrimas banharem seu rosto que trazia do coração o entendimento
de que já não havia mais tempo...
Ajuntou ele mesmo as tábuas uma a
uma. Crivou-as de pregos, reforçando bem o fundo que o sustentaria, ou melhor,
que sustentaria sua inexistência. A morte ganhava contornos vivos e tudo era
assim: estranho. Queria inexistir, pois assim era lembrado; assim era com todos
que morriam. Um dia, feito o caixão, organizou cuidadosamente suas lembranças –
cartas, fotografias, memórias de criança – dentro dele, sem se esquecer do que mais
lhe afligia: seu presente. Tudo deposto na estranha padiola, pôs-se a escavar
lentamente como quem sorve cada pá de terra, extasiado em sua própria ação de
(a)sumir. Ao vê-lo abrir a terra, a mãe não sustentou a capacidade da ausência
que lhe infligiu na vida e o percebeu tarde demais...
_ O que está fazendo?
E a resposta veio fria. Rígida.
“Estou a enterrar a mim”.