Pra
lá desse quintal sempre houve uma noite infinita que, agora que o transpôs, não
sabia se deveria. Talvez fosse melhor imaginá-la pelo rádio ao debruçar-se sobre
a mesa a ouvir aquela música e deixar-se fazer dela – a noite – o que as suas
lágrimas sugerissem. Mas a curiosidade o abateu como estrelas cadentes a viajarem
em excessos. Era evidente a sua felicidade na simples-cidade em que vivia:
meiga, pequena, pacata protegida dos adereços que tornam cheios os nossos
pensamentos. E quão mais confortável era a vida pouca neste quintal vazio que o
tempo ainda não preenchera... Tudo era
tão cheio de nada em sua volta que a falta, além de não se fazer presente,
apresentava-se como possibilidades. Um banho quente em noite fria era um
bálsamo de abundância; o que dizer da velha bicicleta que o ajudava a vencer a
longa distância entre a casa e a escola e ainda emprestava-lhe a suave carícia
do vento? Mas o menino cresceu... E o quintal não mais lhe cabia. Não se
arrependia de ter desejado o infinito, mas de tê-lo deixado ser ilusão...
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