terça-feira, 29 de julho de 2014

Entrelinhas - Pra lá desse quintal

Pra lá desse quintal sempre houve uma noite infinita que, agora que o transpôs, não sabia se deveria. Talvez fosse melhor imaginá-la pelo rádio ao debruçar-se sobre a mesa a ouvir aquela música e deixar-se fazer dela – a noite – o que as suas lágrimas sugerissem. Mas a curiosidade o abateu como estrelas cadentes a viajarem em excessos. Era evidente a sua felicidade na simples-cidade em que vivia: meiga, pequena, pacata protegida dos adereços que tornam cheios os nossos pensamentos. E quão mais confortável era a vida pouca neste quintal vazio que o tempo ainda não preenchera...  Tudo era tão cheio de nada em sua volta que a falta, além de não se fazer presente, apresentava-se como possibilidades. Um banho quente em noite fria era um bálsamo de abundância; o que dizer da velha bicicleta que o ajudava a vencer a longa distância entre a casa e a escola e ainda emprestava-lhe a suave carícia do vento? Mas o menino cresceu... E o quintal não mais lhe cabia. Não se arrependia de ter desejado o infinito, mas de tê-lo deixado ser ilusão...

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