Gosto
muito dos velhos que consertam coisas. Eu mesmo tive um tio assim. Consertava
tudo. Uma vez pegou uma lâmpada incandescente queimada no lixo, emendou seu
filamento e o pequeno bulbo de luz nunca mais deixou de acender. Osmânio era um
velho como ele: consertava ferros, rádios, relógios de corda, chuveiros,
televisões velhas... Mas o que ele mais sabia consertar eram sentimentos... Não
havia um só casal que se estivesse a ponto de separação, Osmânio não os unia; O
que falar das brigas entre irmãos, pais, mães? Até os animais pareciam
respeitar o dom reparador que vinha das mãos daquele velho, e a braveza
instintiva se transformava em mansidão quando estavam em sua presença, e os
alaridos viravam sons de passarinhos, assim como as flores floresciam mais e os
aromas ficavam ainda mais cheirosos. Osmânio era assim; consertava corações. Mas
apesar de tanto talento naquelas mãos, a tristeza não se apartava de seus
olhos. Camuflava-se aos sorrisos tímidos daquele jeito misturado de
sentimentos. E isso por uma simples razão: Osmânio era homem e, como tal, havia
amado, e muito, uma mulher que, agora, existia apenas em seu passado. Ninguém
nunca soube quem era de fato ou o que aconteceu para ela não ter envelhecido
com ele. O que todos sabiam era que Osmânio, o velho que consertava corações,
nunca havia consertado o seu...
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