segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O velho que consertava coisas


Gosto muito dos velhos que consertam coisas. Eu mesmo tive um tio assim. Consertava tudo. Uma vez pegou uma lâmpada incandescente queimada no lixo, emendou seu filamento e o pequeno bulbo de luz nunca mais deixou de acender. Osmânio era um velho como ele: consertava ferros, rádios, relógios de corda, chuveiros, televisões velhas... Mas o que ele mais sabia consertar eram sentimentos... Não havia um só casal que se estivesse a ponto de separação, Osmânio não os unia; O que falar das brigas entre irmãos, pais, mães? Até os animais pareciam respeitar o dom reparador que vinha das mãos daquele velho, e a braveza instintiva se transformava em mansidão quando estavam em sua presença, e os alaridos viravam sons de passarinhos, assim como as flores floresciam mais e os aromas ficavam ainda mais cheirosos. Osmânio era assim; consertava corações. Mas apesar de tanto talento naquelas mãos, a tristeza não se apartava de seus olhos. Camuflava-se aos sorrisos tímidos daquele jeito misturado de sentimentos. E isso por uma simples razão: Osmânio era homem e, como tal, havia amado, e muito, uma mulher que, agora, existia apenas em seu passado. Ninguém nunca soube quem era de fato ou o que aconteceu para ela não ter envelhecido com ele. O que todos sabiam era que Osmânio, o velho que consertava corações, nunca havia consertado o seu...

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