Fazemos
parte da natureza. Estamos em comunhão com tudo que nos rodeia, queiramos ou
não, gostemos ou não. Não vivemos dissociados de nada. Somos seres interligados
uns aos outros, irmanados em um mesmo grande projeto de evolução moral e
cósmica. A evolução é atributo universal e mesmo os mais ignorantes, moralmente
falando, estão inseridos nesta lei de progresso, cabendo a cada um segundo as
suas obras. Isso nos dá uma grande autonomia de alongar ou encurtar o nosso
processo no mundo. Haja visto que a vida é processual e, sem queimar etapas,
nos demoramos mais ou menos tempo em cada uma delas de acordo com nossos
aproveitamentos. À semelhança do aluno que, vazio de início, vai se preenchendo
e, por razão de seu livre-arbítrio e atitude vai se esmerilhando e adquirindo
méritos de progresso, todos nós trilhamos o mesmo caminho. Mas também, como
muitos, nos detemos em algum lugar e nele ficamos muito tempo até que tenhamos
aprendido as lições dos mestres. Muitos se revoltam sem nada adiantar. O máximo
que conseguem é adiar ainda mais sua caminhada evolutiva. A vida está cheia de
exemplos do que acabo de dizer.
O
“esmerilhamento”, razão de dor e sofrimento para uns, é bálsamo de alegria e
glória para outros que compreendem a alquimia de Deus. Nela nossos empréstimos
são averiguados, retocados, polidos, lubrificados e alimentados. Empréstimos
porque nada dessa vida é inteiramente nosso, a não ser a consciência do dever
cumprido e o mérito de seguir em frente.
Alquimia
é uma palavra interessante. Sugere transformação. Muitos historiadores atribuem
o seu surgimento no Egito antigo entre 300 a 1400 d.C. e a sua principal meta
era a transformação de metais “vis” em ouro. Mas essa ideia de transformação
nos acompanha desde sempre. É o processo que nos torna vivos, presentes. Pense
um minuto na sua respiração. Ela é formada por dois movimentos: inspiração e
expiração. Ninguém inspira e expira ao mesmo tempo. Isso é absolutamente
impossível. Para que uma exista a outra precisa findar. Assim é tudo na vida.
Essa dicotomia é inesgotável. Francisco de Assis, sabendo disso, dizia: “É dando que se recebe, é perdoando que se é
perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Sábias palavras de
um homem que entendia o processo de Deus.
Como
Francisco de Assis, temos exemplos de muitos outros mestres e sábios que
tentaram nos mostrar a lei da vida, a lei da transformação. E nos mostraram
isso com seus exemplos, suportando os reveses da vida sem murmúrios e
lamentações que só lhes atrasariam o caminho. O que muitos enxergaram como
sofrimento negativo ou, pior ainda, passivo, eles enxergaram como processo,
como meio. Não é possível chegar sem ter que ir. E não é possível ir sem ter
que se transformar a cada instante. Uma espada não é forjada sem a alternância
do fogo e da água; o atleta não chega a vencer os seus limites sem o esforço do
treinamento. E quanto suor, quanto esforço é necessário... Para muitos, quanto
sofrimento, mas para eles, quanta benção. Viu? Quem disse que não há sofrimento
positivo?
Penso
que Deus é um grande alquimista, pois somos suas peças brutas, vis metais
grosseiros que, ao ir e vir de nossas existências, encontros e desencontros,
vamos nos forjando espadas de ouro. O sofrimento, assim, passa a ser compreendido
e, aos poucos, tende a desaparecer, pois onde há entendimento não há sofrer,
mas uma certeza de um burilar carinhoso de um Pai amoroso e infinitamente justo
e bom.
Quando
Cristo disse: Bem-aventurados os aflitos,
pois deles é o Reino dos Céus, não
se referia àqueles que sofrem em geral, pois estes não sabem porque sofrem. Ele
se referia aos que buscam o ouro espiritual, os que empregam os poderes da alma
para um caminho de regeneração e purificação, conseguindo materializar isso bem
aqui e agora, independente das condições de suas vidas. Essas pessoas, ao
contrário das outras, não caem na armadilha do sofrimento gratuito, daquele que
não serve para nada, como as drogas, a bebida, o sexo desregrado e todo tipo de
excesso. Antes disso, se entregam na grande alquimia de Deus e transformam suas
vidas, pois quando isso acontece nos aproximamos de Deus e quando nos
aproximamos de Deus também nos tornamos divinos. Como dizia um dos grandes
mestres que um dia esteve conosco – Saint Germain – “A verdadeira alquimia não
é transformar o metal em ouro, mas tornar o homem consciente de sua divindade”.
Este é o nosso caminho. Avancemos.
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