José levantou cedo naquele dia sentindo
um impressionante chamado de Deus. Dentro dele algo acontecia que o
impulsionava a sair em busca de inusitado encontro. Uma vez que não sabia aonde
ir, logo veio em sua mente o óbvio: a igreja. Qual? Seja qual for centenas de
milhares de pessoas não poderiam estar erradas. As músicas altíssimas cantadas
num frisson de louvor, os gritos de adoração contemplados à palavra amor,
deveriam estar certos, afinal. Assim andou. Quanto mais andava, mais se
avolumavam igrejas e, junto delas, opiniões, palavras, homilias, pregações,
baterias, gritos, violões... Mas seu coração não se preenchia. Porém, o vazio
que antes incomodava, passou a ser um estranho conforto, pois, ao viver o vazio,
o silêncio o despreenchia e ele achou
isso bom. No entanto, o reconforto vinha com a culpa de ser diferente, de não
ter seguido o chamado... Via a alegria dos outros, mas o incomodava a verdade
que ali não sentia como sua e essa culpa o fez gritar ainda mais alto
internamente. Neste momento, um simples jardineiro que o observava, pois José
estava sentado no banco de uma praça, se aproximou lhe despertando os olhos
para as flores que cuidava. Com seu semblante e gestos livres e despertos,
disse:
_ Contemple uma flor... Viu? Deus está
nos silêncios... Porque o grito?
Naquele momento, José percebeu que
havia, há muito, obedecido ao chamado e que, com o auxílio daquele jardineiro
que estava a semear, todo o barulho cessou em sua alma, seja externo ou interno,
fazendo de sua vida uma comunhão ao silêncio e dele um testemunho íntimo em
cada flor que passou a cultivar.
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