Voltava
ali todos os dias para ouvir os silêncios daquelas gentes que não mais povoavam
os corredores escuros daquela casa. Minha memória divagava, mas ainda recordava
ter vivido as belas tardes de domingo, os almoços com a família, a presença dos
amigos, das tias velhas, das primas mal crescidas, as canções tiradas ao violão
inebriando saudades que viriam. Tudo se esvaía como fumaça, não do caldeirão
usado para esquentar o “cumezim”, mas
do pó de ossos de minhas lembranças. Voltava ali todos os dias a cercear
saudades. Mas... A casa vazia e largada se enche de vozes e tudo se estraga.
Quero o silêncio, mas ele se quebra pelas tão dolorosas vozes que não se
escutam pelos ouvidos, mas pelos olhos. Tapei-os na esperança de expulsá-las no
instante em que elas brincavam de ciranda em torno de mim, acordando imagens já
completamente livres, risonhas e nuas, quase pornográficas; imagens vivas de
coisas mortas e pessoas em estado de adeus. Assim, de olhos fechados, já não
ouvia palavras e era assim que eu gostava, era assim que eu me acalmava, pois o
silêncio me chamava e era por ele que estava a visitar sempre aquele lugar. Mas
algo estranho aconteceu: passei eu a ser o silêncio daquela casa, que já não
era mais casa, mas uma campa, onde passei a morar como se não existisse...
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