A hora havia chegada.
“Todo encontro está fadado à separação”, não é assim? Na vida daqueles dois
amigos não era diferente. Apenas havia o entendimento que era por um breve
momento, tão breve como o bater de asas de uma borboleta, como aquela do parque
onde, pela primeira vez quando crianças comeram juntos os primeiros algodões-doces:
branquinhos, felpudos. A novidade se transformara em símbolo de amizade nascida
junta na mesma maternidade e perpetuada até ali, 86 anos depois.
Agora, nos derradeiros instantes onde apenas a espera
separava aquele encontro terreno, o velho amigo doente perante os olhares
condolentes, viu pela janela aberta uma frestinha do céu repleto de nuvens
branquinhas e felpudas e, num filete de voz quase sumida, disse ao amigo outro
que se mantinha ao seu lado:
_ Pedro... Olhe... Está vendo? Algodões-doces...
E junto com os seus olhos que se encontraram num último
sorriso de cumplicidade, veio a resposta calma, serena:
_ É sim, João... E não se esqueça... Quando você chegar lá,
guarda um pedacinho pra mim...
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