segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Entrelinhas - Cumplicidade

A hora havia chegada. “Todo encontro está fadado à separação”, não é assim? Na vida daqueles dois amigos não era diferente. Apenas havia o entendimento que era por um breve momento, tão breve como o bater de asas de uma borboleta, como aquela do parque onde, pela primeira vez quando crianças comeram juntos os primeiros algodões-doces: branquinhos, felpudos. A novidade se transformara em símbolo de amizade nascida junta na mesma maternidade e perpetuada até ali, 86 anos depois.
         Agora, nos derradeiros instantes onde apenas a espera separava aquele encontro terreno, o velho amigo doente perante os olhares condolentes, viu pela janela aberta uma frestinha do céu repleto de nuvens branquinhas e felpudas e, num filete de voz quase sumida, disse ao amigo outro que se mantinha ao seu lado:
         _ Pedro... Olhe... Está vendo? Algodões-doces...
         E junto com os seus olhos que se encontraram num último sorriso de cumplicidade, veio a resposta calma, serena:
         _ É sim, João... E não se esqueça... Quando você chegar lá, guarda um pedacinho pra mim...

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