terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Entrelinhas - A Passagem

          Um dia um pescador saiu para pescar. Levantou mais cedo que os outros e foi para o rio. Lá, desembainhou o facão e desvestiu a pele de seu corpo se jogando na água. Assim que seu corpo sem pele tocou a água, ele se transformou em um peixe lindo que encantou os outros peixes conduzindo-os às redes dos outros pescadores que, a essa altura, já estavam armadas. No final do dia, e já em forma de homem, voltou para casa levando um único peixe, diferente dos demais que voltaram com as redes cheias. Com o tempo, seu filho foi achando aquilo estranho, mas era só ouvir as algazarras dos meninos que logo esquecia e ia brincar com as outras crianças.
            Um dia o rapaz acordou mais cedo que o pai. Esperou que este saísse e o seguiu presenciando o que ele fazia. Naquele dia o pai não mais voltou para casa. Os pescadores também não levaram peixe algum. Assim foram todos os outros dias que se seguiram até que o rapaz, que havia mantido silêncio, fez o que precisava: levantou cedo e foi para o rio procurar o pai. Ao chegar, o viu de costas na margem da água parecendo que o esperava.
            _ Você descobriu... Agora terá que tomar o meu lugar.
            _ E se eu não quiser pai?
            _ Todos morrerão de fome. Nós dois sabemos que não há escolha.
            Desembainhou o facão e um grito de pânico se fez ouvir. O rapaz sentou na cama se sentindo completamente ofegante e suado...
            _ Pesadelo, filho?
            _ Sim, Eu...
            _ Já não era sem tempo... Levante-se! Hoje você vai pescar comigo.
            Um medo terrível o assolou e ele fez a mesma pergunta do sonho:
            _ E se eu não quiser pai?
          _Nós dois sabemos que não há escolha... Eu vi como ontem você não quis brincar com as outras crianças...
         O tempo havia chegado... E foi assim que a passagem de sua infância se deu como uma lâmina a desvestir o seu corpo e expor a sua alma. Era o que pensava lembrando-se do pai enquanto ele, agora homem feito, olhava o filho que dormia parecendo que sonhava...

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