Maternidade era uma das palavras
esquecidas no seu dicionário. Era fácil demais para algumas pessoas pensar
nisso, não para ela, de corpo perfeito e vida em liberdade. Por isso, seu
ventre crescido estava na contra mão de todos e recordava sua rejeição. Daquele
invólucro perfeito ficariam cicatrizes, marcas que sobreporiam ao efemeramente
físico e atingiriam sonhos interrompidos. Dejanira era mulher do mundo; este
era o seu resguardo que nunca pensou em abandonar, nem sequer substituí-lo por
um momento que fosse. Sentia-se sem vida, apesar da vida que crescia dentro de
si e, mesmo sendo agora duas, teimava-se em sua solidão. O tempo passava, mas
não levava a angústia que aumentava a cada dia que a circunscrição de seu
estado apontava. Já dividia seu alimento sem sua permissão; como seria dividir
o resto? Era o que pensava desolada e inquieta. Só havia um jeito: acabar logo
com aquilo. Porém, o feto crescido já era uma criança e, antes mesmo de pensar
em qualquer outra coisa, de seu corpo redondo começou a emergir um líquido que,
ao rebentar da bolsa, jorrou junto uma sensação indefinível que a urgência do
momento não permitiu reflexões. Elas só vieram quando, já com a criança liberta
deitada em seu peito em meio aos médicos, começou a cantarolar uma cantiga de
ninar no mesmo momento em que seus seios saciavam o filho que calava a ouvir.
Seus olhos recém maternos se iluminavam, o coração que antes rejeitava agora
acalentava e punha-se a descobrir uma desconhecida impressão felina e protetora.
A mulher do mundo sem fronteiras não sabia se o choro convulso que irrompia
naquele instante era amor ou remorso, talvez os dois. Aquele momento eternizado
na música que embalava sua criança, fazia-se pensar: afinal, é a mãe que dá a
luz ao filho ou é o filho que faz nascer a mãe?
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