segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Entrelinhas - Livre como um passarinho




“Pronto! Todo o esforço valeu a pena! Cheguei neste auditório como Alvinho e saio como Doutor Alvarenga Peixoto! As intermináveis provas, as leituras que me tiraram o sono... Tudo aqui neste diploma. Agora é ir para a advocacia e ser livre como um passarinho...”
            Lembrar dessas suas palavras ditas à vinte anos naqueles minutos fugidos para o café, enquanto olhava pelas grades da janela de seu escritório, o fazia lembrar do amigo de infância de quem um dia sentiu pena por não ter, como ele, estudado as letras. Agora sentia pena de si no meio daquelas repartições, petições e processos igualmente intermináveis, enquanto em algum lugar da rua, talvez em alguma praia ouvindo o barulho do mar e sentindo a leve brisa do vento em seus cabelos, o amigo iletrado vendia seus biscoitos recheados. Assim pensava quando foi interrompido por ter sido chamado às pressas para mais uma audiência no mesmo instante em que um passarinho voou do peitoral da janela levando no bico um pedacinho de “sonho”...

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