“Pronto! Todo o esforço
valeu a pena! Cheguei neste auditório como Alvinho e saio como Doutor Alvarenga
Peixoto! As intermináveis provas, as leituras que me tiraram o sono... Tudo
aqui neste diploma. Agora é ir para a advocacia e ser livre como um
passarinho...”
Lembrar dessas suas palavras ditas à vinte anos naqueles
minutos fugidos para o café, enquanto olhava pelas grades da janela de seu
escritório, o fazia lembrar do amigo de infância de quem um dia sentiu pena por
não ter, como ele, estudado as letras. Agora sentia pena de si no meio daquelas
repartições, petições e processos igualmente intermináveis, enquanto em algum
lugar da rua, talvez em alguma praia ouvindo o barulho do mar e sentindo a leve
brisa do vento em seus cabelos, o amigo iletrado vendia seus biscoitos
recheados. Assim pensava quando foi interrompido por ter sido chamado às
pressas para mais uma audiência no mesmo instante em que um passarinho voou do
peitoral da janela levando no bico um pedacinho de “sonho”...
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