Escrever nos espaços onde as palavras já não são necessárias...
Desiludido, escreveu
num pedaço de papel: “Meu amor não tem rosto nem nome...” Aquilo o incomodou
até que o tempo anestesiou sua dor. Por alguns anos até que procurou a dona
daquelas palavras que saíram de si. Já tinha uma pequena caixa de recortes onde
se via imagens de mulheres sem nudez ou sequer sensualidade. Vestidos em Bustos,
braços, pernas, todas elas comuns e sem rosto, se faziam companheiras do papel
já amarelado e esquecido quase com suas letras desbotadas. A inércia daquele
encontro e a insistência da sua impossibilidade fez com que desistisse de vez e
aposentasse suas imaginações por anos, vivendo apenas em sua companhia. Já
idoso, porém, ao limpar sua estante, se deparou com aquelas lembranças e quis
jogá-las fora. À porta de sua casa, abriu a tampa da coleta e, no derradeiro
movimento, ouviu uma voz que lhe disse: “Meu nome é Judite e preciso de uma
informação...” Ao fitar a senhora que sorria, seu rosto se desenhou em cada
pedacinho de papel que segurava e, junto com o nome, preencheu o que faltava...
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